segunda-feira, 28 de junho de 2021

Artigo: Historiografia e Ensino de História

Marc Bloch: A história como ciência e o ofício do historiador

     Refletido nos questionamentos suscitados pelos campos disciplinares acadêmicos da Teoria da História e da Prática de Ensino, nos deparamos com as literaturas, produto das concepções intelectuais e inovadoras da Escola dos Annales (França), que trouxeram o exercício da “prática da análise” com Marc Bloch e outros cientistas do social, que em meio à tantas turbulências vivenciadas pelo século XX; acarretou - se um sentimento de desânimo nos pensadores em relação ao regresso da humanidade, porém, ao mesmo tempo, provocou neles reflexões profundas que os conduziram à discussões calorosas, resultando em novos olhares e formatos mais específicos e abrangentes na produção científica, em particular uma maneira mais palpável e sensível de estudar o passado, com estudos inovadores, novas mentalidades, novos reflexos, ou seja, visões mais precisas sobre os conceitos historiográficos e assim novos rumos na produção do conhecimento histórico. 

    A Historiografia antes de ganhar uma notoriedade e reconhecimento como parte do conhecimento cientifico sofreu muitas modificações e releituras para se enquadrar na epistemologia empírica do século XIX, que valorizava as ciências dos experimentos exatos. Assim os historiadores positivistas (POSITIVISMO) produziram um conhecimento histórico mais voltado ao sentimento nacionalista da época e aos interesses da classe burguesa dominante, narrando a História com característica factual, buscando de forma objetiva e imparcial a veracidade nos documentos escritos, legitimando a História como ciência dos grandes heróis e suas verdades absolutas nas fontes oficiais.



                                       (Escola Positivista - Europa- século XIX )

                                         (Créditos ao blog História do mundo)

    No século XX, com a chamada revolução documental, os intelectuais da Escola dos Annales (França) quebram esse paradigma. Marc Bloch historiador político, autor de inúmeras renomadas obras, produz em momentos intensos de sua vida, aglomerados de ensaios nominados “Apologia da história”, do qual, sob seu viés, que contrapõem - se ao Positivismo, houve se ideia de repensar a história não apenas como estudos das sociedades passadas, mas o seu papel como ciência que contextualiza, critica, dá significado desse passado estudado, não buscando por verdades absolutas, porém outras inúmeras visões de saber ler e compreender a nossa realidade vivenciada. A ciência histórica vai muito além de narrar fatos, ela é viva, contínua, subjetiva, tem o poder de dialogar com outras áreas do conhecimento (interdisciplinaridade), pois dela vem a intervenção de pensar na essencialidade dos acontecimentos que envolvem o homem em sua totalidade.


            (Da esquerda para a direita: Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernad   Braudel)

                          (Créditos da imagem: blog overdose de teorias)


    Bloch afirma:

“(...) Por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que a criaram, são os homens que a história quer capturar. ” (Bloch, p.54, 2001).

“Ciência dos homens, dissemos. Ainda é vago demais. É preciso acrescentar “ciência dos homens no tempo.” (Bloch, p.55, 2001).

                   (Obra escrita por M. Bloch quando ele estava preso pela Gestapo)

    Bloch faz tais afirmações buscando expor para nós que a história é ciência, e tem seu diferencial das outras, pois além de estudar o homem e suas complexidades em cada contexto histórico, ela propicia que qualquer ser humano seja um produtor de História, e que dentro da concepção analítica e inovadora da história-problema todos os indivíduos são agentes históricos, pois a historiografia captura o aparecimento do homem em suas construções interpessoais. Ela é excepcional, pois é um conhecimento científico do homem para o homem, sua matéria prima é o homem quanto humano vivo subjetivo, em suas especificidades, que interage e transforma seu meio, deixando rastros, marcas implícitas ou explicitas, decorrentes no tempo que respigam e refletem na cultura e na construção sociopolítica da sociedade em vigente ascensão.

Para se compreender ofício do historiador - pesquisador ou do docente de história na sociedade atuante, precisamos entender o sentido de tempo na concepção histórica. Portanto, se matéria prima da ciência histórica é o homem, o tempo histórico seria a duração de um evento relacionado nas mudanças das sociedades humanas, onde o homem protagoniza a transformação e ao mesmo tempo se transforma. 

Segundo Bloch:

 “O tempo da história é ao contrário, é o próprio plasma em que se engastam os fenômenos e como o lugar de sua inteligibilidade.” (Bloch, p.55,2001).

 “Ora, esse tempo verdadeiro é, por natureza um continuum. É também perpétuo de mudanças.” (Bloch, p.55, 2001).

Então podemos constatar que, a grosso modo, o objeto de estudo do professor -historiador seria uma conjuntura (pedaço) de tempo histórico; toda a fonte material ou imaterial, testemunhos, produção historiográfica, vestígios, ou seja, todas as informações contidas nesse passado, que nos propiciará o exercício da observação histórica, e que nos conduzirá a percepção da ação transformadora do homem e as concepções de rupturas e continuidades.

 Bloch ressalta que o historiador dialoga e suscita seus questionamentos de acordo com o lugar social que está inserido, então pode se dizer que apesar do professor - historiador ter pretensões, é seu ofício como um cientista do social diagnosticar sua realidade vivenciada e procurar buscar nos estudos de um passado histórico especifico, algo que tente sanar seus questionamentos, não importando seu ponto de partida, mas onde ele pretende chegar; e como docente de história conduzir o aluno ao conhecimento histórico, o incluir de forma saudável no processo ensino - aprendizagem, ensinando coisas do passado que façam sentido na realidade do educando, não ferindo sua dignidade humana, e nem ferir a sua própria ética acadêmica, mas pensar que através de seu conhecimento cientifico, deve ensinar história que construa seres humanos críticos, reflexivos, com postura, que assimilem um conhecimento histórico que contribuam em suas relações humanas, ou seja, constituir indivíduos que obtenham um leque de possibilidade de leituras do mundo e da realidade que os cercam.

Autora: Professora Tatiane André de Matos.


VOCABULÁRIO:

Historiografia: conjunto de obras, pesquisas, ensaios, artigos, podcasts, vídeos; etc. - que tratam da escrita científica sobre os fatos do passado.

      Epistemologia: ou Teoria do conhecimento é o ramo da Filosofia que estuda os processos pelos quais se produz o conhecimento científico atrelado aos saberes humanos que determinam sua natureza e validade.

     Positivismo ou escola positivista: Corrente teórica criada pelo filósofo francês Auguste Comte, que buscava enquadrar as narrativas históricas aos padrões da epistemologia empírica trazida pelo cientificismo moderno do século XIX, que determinava o que era considerada ciência, aquilo que poderia ser provado ou validado. O documento escrito era analisado de maneira imparcial e neutra, buscando a verdade absoluta dos fatos.

 Gestapo: Polícia secreta do Estado Nazista, criada em 1933.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS :

Livro:

BLOCH, Marc. Apologia da história, ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Portais e blogs:

Link: Positivismo: o que é, origem e características - História do Mundo (historiadomundo.com.br)

Link: A Escola dos Annales | OVERDOSE DE TEORIAS (wordpress.com)


quarta-feira, 23 de junho de 2021

CATEGORIA - RESUMO - SOBRE A ERA DAS REVOLUÇÕES ( SÉCULO XX)

 

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA: REVOLUÇÃO RUSSA - 1917


DIFERENÇAS ENTRE A REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO  E REVOLUÇÃO DE OUTUBRO.

                                                        (Créditos da imagem: Pinterest)



                                            (Crédito de imagem: site Toda Matéria)

    Para refletirmos no processo revolucionário que envolve a Rússia, devemos pontuar fatores importantes que desencadearam a revolução que tem seu caráter visceral, ou seja, a reconfiguração das estruturas internas do sistema social do território russo refletiu fortemente no fluxo de marcantes acontecimentos externos como a Primeira Grande Guerra Mundial, que propiciará na ascensão de uma potente hegemonia nivelada ao poderio norte americano (EUA) que posteriormente proporcionará numa esmagadora “queda de braço” de ambos no conflito ideológico da chamada Guerra Fria.

    Em meados do século XX, a Rússia ainda vivia sob o domínio de uma dinastia, as do Romanov, do Czar Nicolau II, um Imperador autocrata, que regia o Império aos moldes absolutistas, um governo de privilégios para a classe dominante em contraste com o contingente populacional de maior número formado por camponeses e operários. A Rússia ainda era uma nação de caráter predominantemente agrário de escassas atividades industriais. Crescia as insatisfações do povo (classe subjugada, de restrito acesso à educação), que sofria com tensos problemas econômicos gerados pelo conflito Nipo- Russo, do qual os russos saíram derrotados. 


                                    (Guerra Russa - Japonesa - 1904 à 1905)
                                             (Créditos da imagem: Pinterest)

    Para amenizar as tensões internas o líder Imperial resolver criar a Duma, um tipo de parlamento, onde a partir de então a Monarquia instaurada passaria a ser de caráter Constitucionalista (ou seja leis regeriam a sociedade). Nesse parlamento ocorreu calorosos debates com a disseminação do pensamento marxista; ascende então desse grupo de parlamentares dois partidos: os mencheviques, considerados sociais democratas e os bolcheviques, considerado os comunistas. Os descontentamentos potencializaram  quando o Czar Nicolau II decidiu que, a Rússia mesmo sem condições econômicas  permaneceria no conflito bélico europeu (1ª Grande Guerra Mundial), acelerando assim o colapso generalizado da economia interna e o despertar do povo russo em relação de lutar por conquistas de melhoria de vida e o resgate de sua dignidade.


                                       ( A Duma - Créditos da imagem: Pinterest)

    Em meio dessas agitações populares revolucionárias em prol de transformações, surge os Sovietes, que são um conselho organizador e gerenciador das causas do trabalhador operário russo. As complexidades internas estavam cada vez mais gritantes, o ódio contra o governo só aumentava, a fome e a miséria pairava sobre a população subserviente; manifestações se estalaram pelas principais cidades russas; O partido dos mencheviques, (um grupo minoritário) que ansiavam por uma revolução por etapas, alçaram seu objetivo. Em fevereiro de 1917, a Monarquia é derrubada, e a Rússia sofre transformações de caráter burguês, tornando se uma Republica Parlamentarista, onde os socialistas moderados assumem o poder, constituindo assim o Governo Provisório.

     Apesar das tensões internas tenham sido amenizadas, o clima de disputa pelo poderio russo continuava pela dualidade entre os sociais democratas e os comunistas facciosos. Os bolcheviques então, disseminam ideais (marxistas) leninistas no meio dos camponeses e operários insatisfeitos com o Governo Provisório. Uma outra revolução explode, onde os comunistas bolchevistas ao controlarem os sovietes, conseguem realizar um golpe de Estado e tomam o poder da liderança russa em outubro de 1917, instaurando assim o primeiro Estado dito Socialista no planeta; fazendo os russos vivenciarem o período mais democrático do país. 

     Pode se considerar que a diferença entre a revolução de fevereiro da revolução de outubro de 1917 é que, na primeira, a motivação revolucionária partiu da vontade popular, porém o processo foi conduzido pela Burguesia. Na segunda, a grande sacada foi a ideia de unir e organizar as distintas classes subjugadas, assim ganhando apoio da maioria da população e propiciando reconfigurações que não teriam a necessidade de passar por etapas, mas que a revolução seria realizada pela massa a favor da massa, e hipoteticamente teria um caráter mais comunista , com o lema “Paz, Pão e Terra", criando assim um governo que em teoria que se organizaria e lutaria mais em prol dos direitos populares, isto é, pelos menos favorecidos que formam a maior parte da sociedade russa, constituindo portanto a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.(URSS), tendo sua duração até meados de 1991.


                          (Bandeira da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas)

                                       (Créditos da imagem: Pinterest)


A QUESTÃO DA NEP (NOVA POLÍTICA ECONÔMICA) E AS PROPOSTAS QUE FUNDAMENTARAM O GRUPO BOLCHEVIQUE

    Os bolcheviques, partido maioritário considerados facciosos, pensavam num processo revolucionário sem necessidades de passar por etapas, ou seja, acreditavam que um país em subdesenvolvimento como a Rússia possuíam fatores e um ambiente que propiciariam um processo revolucionário direto, que resultaria na ditadura do proletariado como propunha o marxismo leninista (ideais do político Vladimir Lenin).

    Com a chamada contrarrevolução, o partido bolchevista assume o poder da Rússia, propondo a união de territórios fragmentados, constituindo assim a URSS (União das Republicas Socialistas Soviéticas); fortalecendo a aliança entre os camponeses e o proletariado, reconfigurando a nação aos moldes do sistema socialista. Porém, no início 1921, a Rússia estava devastada tanto internamente com a crise econômica e guerras civis, e externamente, por conta de fortes respingos proeminentes da participação na Primeira Grande Guerra Mundial. 

    Os bolcheviques tinham em suas mãos uma tarefa árdua de restaurar em sua totalidade a economia russa, ou seja, o objetivo maior não era vencer o ideal capitalista, mas a fome e a miséria que assolavam a população, isto é, deveriam propor medidas que reativassem os circuitos econômicos e assim recolocar o país em movimento. Na tentativa de resolução desses problemas, os bolcheviques criaram a NEP (Nova Política Econômica) que traz propostas para melhorias na economia, onde ocorreria uma introdução de características capitalistas nas atividades dos circuitos econômicos. Sendo assim, reajustes foram realizados como: para estimular a produção agrícola, fixou se um imposto único, dando legalidade para o camponês de produzir o que desejasse e de vender o excedente por quanto quisesse e conviesse; reativação de feiras e mercados para redes de comercialização; meios de transportes; reorganização da grande indústria estatizada , entre outras medidas tomadas pelo governo.

     A nova política de economia pretendia liberalizar as relações econômicas (marcadas por características capitalistas) porém gerenciadas pelo Estado; essas medidas desenvolvidas eram bem duras, o governo agia de forma inflexível, porém se justificava alegando que se tratavam apenas medidas “provisórias”, colocando a sobrevivência acima de tudo; e mesmo que tais atitudes tomadas se distanciavam dos ideais socialistas tão sonhados e pregados pelo marxismo leninista, o que importava para os bolcheviques era de manter seu poder. Todavia, aquilo que deveria ter se tornado a ditadura do proletariado, que é o suporte essencial do sistema socialista, se transformou, segundo as concepções dos historiadores revisionistas, a ditadura do partido comunista bolchevista, que colocava os ideais em prol de todos em segundo plano, e se curvava para a incessante busca por seus próprios interesses, se utilizando da NEP como um vínculo de manipulação que atendesse aos seus objetivos.



                                        (Créditos da imagem: Brasil escola)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aula expositiva sobre a Revolução Russa 

Link Aula 05 revolução russa (slideshare.net) 

Artigos:

Linkhistoriografia-da-revolucao-russa-antigas-e-novas-abordagens_angelo-segrillo.pdf (usp.br)




segunda-feira, 21 de junho de 2021

CATEGORIA - RESUMO : SOBRE AS EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAS NAS CONJUNTURAS HISTÓRICAS DO SÉCULO XX


 Educação Libertária Anarquista  

     As primeiras concepções anarquistas surgem no final do século XVIII concomitante ao Movimento Iluminista do século XVII, das quais se contrapuseram ao sistema sociopolítico Absolutista Monárquico vigente, que dominava as relações humanas sob o viés moralizador da cultura cristã, as demandas de um estado centralizador de poder refletidas na figura do rei. Revoluções Burguesas eclodiram nessa época como a Revolução Francesa (1789) que propuseram ideais de liberdade, igualdade, fraternidade que respingaram sobre a construção do pensamento anarquista que tinha como cerne a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. 

     Entretanto, com a Revolução Industrial e o sistema capitalista sendo imposto como ordem social, o ideário anarquista começa a ganhar força em detrimento das configurações das relações de trabalho, com a ascensão do operariado e o surgimento da figura do dono dos meios de produção; a exploração das forças produtivas dos trabalhadores que se processa das situações de precariedade dos ambientes fabris; das horas subjugadas de trabalho e péssima remuneração. O Anarquismo se manifesta e se enraíza como concepção política, econômica e social, e uma alternativa de contestação da lógica capitalista de organização da sociedade.          Nessa efervescência das agitações sociais provenientes dos movimentos operários já em meados do século XX, as reivindicações por direitos de igualdade; o Anarquismo se estrutura como sistema sociopolítico filosófico e ideológico no tocante de organizar com a participação de todos uma sociedade, sem o referencial de Estado e sem divisão de classes. A Educação proposta pelos anarquistas, que visa várias formas de construção do ser e um relacionamento social mais igualitário é a Pedagogia Libertária. Uma das figuras de suma importância para a propagação do sistema pedagógico libertário é o pedagogo francês Paul Robin, criador da educação integral, que objetiva dar liberdade ao individuo lhe ofertando práticas educativas com bases sólidas presentes nas leis naturais da solidariedade humana. As propostas de uma educação integral pretendem na formação do ser em sua totalidade, isto quer dizer que, todos os indivíduos deveriam ter acesso aos conteúdos científicos (teoria) em consonância com a prática (ensino profissional). A educação integral de caráter mista e laica, visa articular todos os domínios do conhecimento (temáticas sobre vida sexual, higienização, saúde, meio ambiente, entre outras) que trabalhe as dimensões emocionais, físicas, intelectuais e manuais (profissionalizantes) dos educandos com o intuito de instituir seres mais equilibrados, que sejam igualitários e unidos; onde todos teriam acessibilidade ao ensino integral e as mesmas oportunidades. A Pedagogia Libertária trabalha todas as etapas cognitivas e morais dos indivíduos com saberes que fazem sentido na realidade dos aprendizes, em paralelo da formação profissional. 

     Francesco Ferrer, outro idealista propulsor da educação integral com aspirações libertárias anarquistas, era um catalão de caráter republicano e anticlerical, ateu e simpatizante das causas operárias. Foi num contexto agitado de sua época, transformações sociais que decorriam em Barcelona que Ferrer institui a chamada “Escuela Moderna”, que ofertava um ensino laico, multisseriado, com trocas de experiências educativas, com salas de aulas arejadas e amplas; tendo o conteúdo significativo na praticidade do cotidiano escolar; sendo o educandos protagonista na construção de seu próprio conhecimento com foco no desenvolvimento moral, intelectual e profissional. No Brasil do início do século XX, com o fluxo imigratório europeu para serem mão de obra nas indústrias em ascensão, houve inúmeras experiências da Educação Libertária Anarquista, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que foram palcos de inúmeros movimentos sociais como feminismo, sindicalismo e o operariado em si. Em São Paulo tivemos uma expressiva presença da Educação Libertária, com escolas ativas até meados de 2004. A Pedagogia Libertária tem como foco a formação integral do indivíduo que o desenvolva em todas as suas dimensões humanas, dando lhe autonomia para se impor nas situações adversas, sendo ele um agente participativo na construção de uma sociedade mais justa, igual que ofereça direitos e oportunidades para todos; respeitando sempre a alteridade e especificidade de cada ser.


Educação na Era Vargas ( Do Governo Provisório ao Estado Novo)

     O Brasil no início da década de 20 já sofria inúmeros emblemas desencadeados da crise na Republica Velha resultante do domínio oligárquico da aliança política do café com leite (São Paulo e Minas Gerais); propagação de insatisfações em diversos setores da sociedade por causa da instabilidade econômica, resquícios de nossa participação na 1ª Grande Guerra Mundial; proliferando desgastes profundos como carestia na qualidade de vida , oscilação dos preços no processo de exportação de nossos produtos em mercados externos, desemprego, inflação, entre outros problemas graves que foram subsídios para vários movimentos das massas e das elites embebecidas pelas ideologias que dominavam o globo. Podemos destacar alguns movimentos sociopolíticos que foram o pontos cumes da crise nos anos 20 como Campanha Civilista (1910); Acordo de Ouro Fino (1914); A Greve Geral (1917), Reação Republicana (1922) entre outros que eclodiram em resposta ao colapso nos mecanismos de poder que não conseguiam mais atender as necessidades da sociedade brasileira e nem corresponder as exigências do sistema capitalista estruturado. Portanto os anos 20 foram marcados pelo rompimento com o sistema oligárquico, disputas de poder com aspirações europeias, e a queda da bolsa estadunidense que inaugurou um dos maiores impasses nas concepções capitalistas, e por fim o processo de globalização, fator atenuante para reajustar as relações comerciais fragilizadas. 

     Após a chamada Revolução de 30, a figura de Getúlio Vargas já atuante no cenário político brasileiro; proporcionou a ele a chegada até o poder, através de uma golpe de estado que principia o seu primeiro período como líder estadista, o chamado Governo Provisório (1930-1934) caracterizado como centralizador, a eliminação dos órgãos legislativos (Federal, estadual e municipal) e ausência das eleições. Vargas alavanca o processo de industrialização no país, por ser um excelente articulador das manobras políticas, onde a educação regulamentada pela Constituição de 1934, outorga o ensino para todos, sendo dever da família e das esferas públicas. Houve significativas mudanças no período Getulista, mesmo com o conflito entre liberais e conservadores católicos que impunham suas influências; Vargas criou o Ministério da Educação e Saúde Pública; em 1931 ocorreu as reformas de Francisco Campos (ministro da educação da época) que regulamentou o estatuto das universidades brasileiras; organizou o ensino secundário (12 aos 18 anos) que visava na formação que atendesse a lógica do comércio (mão de obra) e o ensino superior. Houve também a regulamentação da profissão de contador e a criação do ensino técnico; a volta das eleições diretas o direito ao voto feminino; autonomia sindical; Consolidação das leis trabalhistas (CLT). 

     No período Getulista, temos a presença dos entusiastas da educação, grupo de intelectuais surgidos ainda na década de 20 que defendiam uma educação de caráter laica, pública, gratuita e obrigatória; propondo assim uma reforma nas dimensões escolares; por meio do manifesto dos pioneiros da escola nova (1932) um documento que angariava assinaturas de educadores que reivindicavam um programa de política educacional amplo e integrador, que tem como cerne o desenvolvimento natural e integral dos indivíduos em cada etapa de seu crescimento. Tal documento foi forte influenciador na Constituição de 1937 e trouxe significativas conquistas para a regulamentação de um ensino mais democrático e menos dualista. 

    Com as reformas de Gustavo Capanema que criava os órgãos SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) com foco nas atividade industriais em processo com alto investimento de capital estrangeiro (nacional- desenvolvimentista); Dualidade na educação: o ensino tecnicista para a classe empobrecida e o ensino intelectual para as Elites. O ensino religioso ganha força tendo a criação de escolas confessionais. O ensino secundário se torna obrigatório dividindo se em ensino vocacional (profissionalizante) e educação religiosa. Há ampliação de um número significativo de escolas e vagas, ofertas para o ensino fundamental e médio, com o objetivo de resolver as questões referentes ao analfabetismo predominante. A educação em todos os períodos da Era Vargas, sendo o Provisório, Constitucional e o Estado Novo (1930-1945); foi de caráter dualista, que visava reformas que atendesse ao cenário de industrialização vigente, formação para o trabalho (mão de obra para operar nas indústrias) nas zonas urbanas e nas zonas rurais manutenção das atividades agrícolas; mercado consumidor e educação superior acessível apenas para as classes abastadas. 


Educação na Ditadura Civil Militar brasileira (1964 - 1985)

 O Século XX foi marcado por intensas agitações sociopolíticas perante todo o globo, intitulado pelo historiador Eric Hobsbawn de “Era dos extremos” do qual ele analisa a conjuntura histórica de 1914 a 1991. O mundo vivenciou Guerras Mundiais, ascensão de Estados Totalitários como o Nazismo alemão e o Fascismo italiano; a presença estadunidense impondo sua influência hegemônica, o novo imperialismo das superpotências no continente africano, Corrida armamentista e a Guerra Fria, e por fim a instauração de ditaduras por toda a América Latina. 

     A Guerra Fria foi uma disputa ideológica pela hegemonia de poder entre os EUA e URSS (1947-1991), tendo como palco a desmantelada Alemanha Hitleriana. No auge da insurreição, os EUA com o ideário de dissipar suas perspectivas capitalistas pelos países emergentes, foi um dos ferrenhos apoiadores ao golpe Militar ocorrido no Brasil em 1964. Tudo que havíamos conquistado de forma gradual na Educação como criação do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) fundado em 1937; e os centros regionais de pesquisas, órgãos fechados pelos líderes militares pela justificativa de serem agentes subversivos que apregoavam a ameaça comunista.

     Em 1961 ocorreu a transferência da capital administrativa do Brasil, do Rio de Janeiro para o então arquitetada Brasília, com intuito de concentração regional, articulação econômica com ideal do nacional- desenvolvimentista, que sugere modernização industrial do país por meio de investimentos de capital estrangeiro. Em 1964 Jango era presidente, e queria implementar reformas de base, que foi vista como tentativa de implantar o Comunismo no Brasil, assim sofreu um golpe de Estado sendo arrancado do poder. Esse momento da historiografia brasileira marcada pela supressão das liberdades individuais e políticas, censura e aparato repressivo a opinião pública, a imprensa e as artes, criminalização e tortura aos opositores. 

     O governo dos militares de caráter déspota e autoritário, projetaram um plano de modernização das bases econômicas, então criaram a CONSULPLAN, incentivo a participação do capital privado para o desenvolvimento das empresas no Brasil. Durante os 21 anos de Ditadura Civil Militar o país passou por várias reformas para a reestruturação econômica e desenvolvimento dos setores de produção; o sistema educacional portanto foi pautado para atender as necessidades do capitalismo liberal. Então a lógica de capital humano foi base estrutural da educação de caráter conservador moralizante. O capital humano era um ideário estadunidense que defendia um ensino que qualificaria o indivíduo, potencializando suas capacidades e fazendo o um agente primordial do processo do trabalho, isto é, pilar das forças produtivas. A cultura seria atrelada a educação tecnicista que visa a eficiência no desenvolvimento profissional. Decorreu se também a municipalização do ensino fundamental, reformas no ensino médio por meio de projetos de lei e o aumento expressivo de colégios particulares. Podemos observar nesse período a presença da USAID, agência dos EUA propiciadora da reformulação de nosso sistema educacional. Reformas do primeiro e segundo grau com base teórica do capital humano, ofertavam disciplinas vocacionais e as artes industriais. As reformas educacionais realizadas pelos militares objetivavam a formação industrial de reservar através da teoria do capital humano, onde o ensino ganharia um caráter mercadológico; isto quer dizer que, educar era criar um exercito industrial que atendesse as demandas da lógica de aglomeração, paralelamente a repressão, supressão de direitos, cassação, mortes e ocultação de cadáveres; velados pelas concepções de democracia que se afirmava estar em exercício.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Artigos: plataforma scielo :

 Link :SciELO - Brasil - Pedagogia libertária: anarquistas, anarquismos e educação Pedagogia libertária: anarquistas, anarquismos e educação 

Revista PUC:

Link: Microsoft Word - I_Tomo_Parte_1_O legado da ditadura para a educação brasileira (pucsp.br) 

Revista EDUCERE:

Link: 18721_9811.pdf (bruc.com.br) 




LITERATURA INFANTIL - LIVRO AUTORAL

LIVRO: Observação: Livro de literatura infantil, produzido em meu penúltimo semestre de licenciatura plena em Pedagogia (2021) para a discip...